segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Pizza em casa é coisa de paulista

Eu sou viciado em pizzas, tenho que assumir. Tão viciado que acabei construindo um forno de pizza no meu pequeno quintal, quase ocupando metade dele.


Será que é mania de paulista?
Em São Paulo são consumidas quarenta mil pizzas por hora, quase um milhão por dia, isso só na capital paulista, com esses números, São Paulo ocupa o segundo lugar no ranking das cidades que mais consomem pizzas, perdendo apenas para Nova York.

Quando eu era pequeno me lembro claramente dos sábados com a minha família em casa, o programa era sempre o mesmo: fazer pizza em casa e assistir um filme no vídeo-cassete, um dos primeiros comprados em todo o bairro.

Minha mãe no sábado de manhã fazia a seu roteiro em busca dos ingredientes para o preparo e dava uma passada na locadora do bairro para alugar alguns filmes.

Meu pai começava os trabalhos no fim da tarde, deixava o forno à gás esquentando minutos antes, preparava os ingredientes comprados pela mamma e começava a cortar o tomate para o preparo do molho, que ele fazia com tomate comum, com pele mesmo, jogava no liquidificador com um pouco de água e sal, batia até virar uma pasta que ele deixava descansando.
Depois começava a mistura dos ingredientes, a especialidade dele era a pizza de atum com milho e mussarela, abria todos os enlatados, deixava escorrer a água, depois em um vasilhame, ele misturava o milho, o atum, cebola bem picada e salsinha.

A massa não era feita em casa, mas ela era caseira, minha mãe comprava uma massa no supermercado que não era industrializada, semi-assada e fina, não ficava igual da pizzaria, pois não era fresca, mas dava pro gasto.

O molho era peneirado e passado na massa, que ficava em uma forma de alumínio. Depois ia direto ao forno sem recheio, apenas para secar um pouco o molho. Ele fazia isso para não deixar a massa molhada, isso acontece porque o forno convencional não chega na temperatura ideal.

Depois disso ele tirava do forno e recheava com o atum e milho, que às vezes eu roubava algumas garfadas pra comer. Depois do recheio ele cobria com mussarela, muita mussarela em fatias, e lá ia para o forno de novo, dessa vez para assar de verdade com o recheio. A pizza ficava lá quase uns 20 minutos para assar direito, depois colocava um pouco de orégano e era só comer.
Admito que não era a melhor pizza do mundo, mas era divertido ajudar ele a fazer as redondas na pia lá de casa, com o que tínhamos, até que ficava bem feitinha, mas a massa caseira ficava um pouco crocante de mais.

Vários anos depois, tentei aprimorar a técnica do meu pai e comecei tentando algo um pouco mais profissional, juntei alguns trocados e mandei fazer o forno a lenha no quintal, comprei uma pá, lenha, peguei uma boa receita de massa e caprichei nos ingredientes. Decidi que queria fazer direito, não que meu pai fizesse errado, mas ele fazia do jeito dele sem muito aparato, bem caseiro mesmo, não como é feito em pizzarias.

Bom, a grande diferença mesmo era o forno a lenha, que atinge a temperatura correta para assar a massa crua, isso era fundamental para a consistência da massa, que é uma das coisas mais difíceis de fazer, pois você precisa sovar na mão a farinha com água e fermento até e achar o ponto certo para ela crescer e não ficar dura.

Outra diferença é o molho de tomate, pois hoje eu compro tomate pelado, corto bem e mando pra panela pra cozinhar alho picado e sal. O restante é simples e parecido com o que ele fazia, com a diferença de não precisar pré-assar a massa com o molho antes, pois o forno a lenha consegue assar a massa em apenas 2 minutos.

Modestamente, minha pizza é muito boa, sempre que podemos nos reunimos em casa pra comer pizza e tomar vinho com os amigos, principalmente quando está frio. Uma das minhas especialidades é a pizza de abobrinha com queijo tipo polenghi e a margherita com manjericão fresco, mas lógico que não poderia faltar a receita do meu pai, de atum com milho.

Infelizmente, vamos ter que mudar de casa para um apartamento um pouco mais perto do nosso trabalho, para ter essa comodidade, vamos ter que abdicar do forno à lenha em casa.
São Paulo é assim, as pessoas têm que se acomodar o mais perto possível do trabalho para terem mais qualidade de vida, ou você estará fadado a perder um bom tempo no percurso.

Nossa salvação é que a minha sogra fez um forno de pizza na casa dela, no interior de São Paulo.
A tradição familiar vai continuar.

Um comentário:

Camila disse...

E agora, a tradição vai continuar com um novo integrante à mesa: o Bruno!
Ele já come as bordinhas!