Certamente a influência dos descendentes do império romano em São Paulo é enorme, não só pela mão-de-obra, vontade de trabalhar, novos costumes, eventos, eles trouxeram também idéias anarquista e socialistas para a terra da garoa.
No início, a maioria dos imigrantes italianos acabaram indo para as fazendas de café do interior do Estado de São Paulo, principalmente aquelas cidades localizadas ao longo das ferrovias do Estado, para onde foram cerca de 90 por cento dos imigrantes que deixaram a Hospedaria do Brás.
As principais cidades que acolheram os imigrantes foram Campinas, Vinhedo, Jundiaí, Cerquilho, Salto, Itu, Tietê, Conchas, Jumirim, Piracicaba, São José do Rio Pardo e as 3 cidades que compõem o ABC paulista (Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul), todas elas ainda concentram uma enorme quantidade de descendentes de italianos. Pra se ter uma idéia, São José do Rio Pardo, por exemplo, chegou a ser considerada, uma cidade Vêneta (da região do Vêneto na Itália), dada a quantidade de italianos que se instalou lá na época.
Por causa do encolhimento dos lucros nas lavouras de café, e a dificuldade de encontrar trabalho na zona rural, muitos imigrantes começaram a ir para as zonas urbanas, a maioria acabou se espalhando pela capital em alguns bairros de classe operária como o Brás, Mooca, Bela Vista, Bom Retiro, Belenzinho, Canindé, Bexiga, Pari, Vila Carrão e Santana, alguns deles conhecidos por terem mais torcedores do Palmeiras do que do Corinthians. Os Napolitanos, por exemplo, ficavam mais agrupados no Brás, calabreses no Bixiga e venezianos no Bom Retiro.
Muitos deles já tinham profissões na Itália como ferreiros, marceneiros, fabricantes de massas, jornaleiros, tecelões, artistas, sapateiros, tintureiros, alfaiates e os "capomastri" (mestres-de-obra), que introduziram novas técnicas na construção civil e que, ao contrário dos anteriores, utilizavam tijolos de barro cozido em suas obras.
Com a vinda dos "capomastri", a demanda por este tipo de tijolo aumentou muito em São Paulo, e para suprir esta demanda, a região de Guarulhos abrigou várias olarias que produziam este tipo de tijolo.
O padastro do meu nonno chamava-se Caetano Coppini e junto com mais 2 de seus filhos (Irio e Armando Coppini), conseguiram uma autorização para explorar argila e assim criar uma destas olarias de Guarulhos.
Meu nonno, Antonio Della Negra, trabalhava na olaria diariamente e saia de São Caetano do Sul, onde morava, e ia até Guarulhos. Hoje o local deu o lugar ao aeroporto de Cumbica, uma grande distância hoje em dia, imagine na época.
Este decreto comprova a autorizaçao no diário oficial. (PDF)
"DECRETO Nº 29347, DE 12 DE MARÇO DE 1951. Autoriza os Cidadãos Brasileiros Irio Coppini e Armando Coppini a Lavrar Argila Refrataria No Municipio de Guarulhos, Estado de São Paulo."
Os "Capomastri" influenciaram muito na arquitetura da cidade, pois lideravam projetos e participavam dos desenhos das obras, muitos deles produzidos em cojunto com os artistas também italianos. Cerca de 90% de todos os monumentos paulistanos foram produzidos ou idealizados por italianos, e obras como o Teatro Municipal, o Palácio das Indústrias, o Mercado Municipal e o Liceu de Artes e Ofícios, foram todos edificados com a ajuda da italianada.
Os Italianos por serem grandes amantes de óperas, também ajudaram a erguer e encher os primeiros teatros paulistanos, um deles, o produtor Franco Zampari, foi produtor, fundador e diretor administrativo do Teatro Brasileiro de Comédia. Isso explica porque no reduto italiano da cidade, os bairros da Bela Vista e do Bixiga, são os locais da maior concentração dos teatros paulistanos.
Economicamente, os italianos foram importantíssimos para São Paulo, não só na construção civil, mas também na forma como participaram do processo de industrialização da cidade. Rodolfo Crespi e Francisco Matarazzo foram os 2 principais industriais italianos do país, sendo o último fundador do império Indústrias Reunidas Matarazzo, que chegou a ter 350 empresas.
Além dos patrões, os operários italianos com tradição anarquista ajudaram na organização dos movimentos sindicais trabalhistas, criaram uma consciência proletária nunca vista antes no país, resultando em greves no início do século. Daí surgiu a influencia na política em São Paulo, ajudando a fundar o Partido Comunista Brasileiro, atual Partido Popular Socialista (PPS).
Para abrigar toda a italianada em São Paulo e não perder as raízes italianas, a comunidade trouxe algumas festas e eventos típicos para a capital paulista que acabaram influenciando resto do país. Eventos como a tradicional festa da Paróquia Nossa Sra. Achiropita, Nossa Sra. de Casaluce e a festa de San Vito, são comemorados todos os anos em São Paulo.
Além da influência em nosso forte sotaque paulistano, agregando muitas novas palavras para o nosso vocabulário, não podemos esquecer da famosa cozinha italiana que se instalou por aqui com milhares de pizzarias e cantinas espalhadas por toda a cidade.
A comunidade acabou criando também colégios populares para alfabetizar as suas crianças. Os italianos fundaram o Colégio Dante Alighieri, na região dos Jardins, hoje em dia, um dos colégios mais bem conceituados do país.
Para ficar mais perto de sua terra natal, trouxeram a bocha e a malha, jogos praticados na Itália e os apaixonados pelo futebol fundaram clube Palestra Itália (Palmeiras) e o Clube Atlético Juventus.
A influência italiana na cidade é muito clara, esta espalhada por todos os cantos da cidade, desde monumentos até pequenas cantinas ou Osteria, como são chamadas por lá.
O Instituto Italiano de Cultura de São Paulo foi criado na cidade pelo governo italiano para manter vivas e reativar os valores da tradição e as ligações com a cultura da Itália.
Eles não conseguiram trazer toda a Itália para dentro de São Paulo, mas um pedaço dela, com certeza está aqui conosco.