terça-feira, 19 de agosto de 2008

Don Carlini - Massa caseira tradicional da Mooca

Ao visitar o Memorial do Imigrante no Brás, tive a idéia de aproveitar e almoçar ali perto pra não precisar sair e perder mais tempo indo para algum outro bairro.

Lembrei que havíamos ido a um restaurante ali perto em um casamento de uma amiga da minha mulher. Bom, minha primeira impressão foi: Casamento em um restaurante no Brás? Nossa...

No final, o casamento era bem simples mesmo, mas a comida do restaurante me chamou muito a atenção pela suavidade das massas, comi muito e não sai de lá cheio.
Depois do casamento: E ae? Vamos voltar aqui?? Vamos sim!

Ao chegar no restaurante, não me lembrava muito bem, mas a entrada era pela garagem em um galpão, como havíamos ficado por ali, não conhecia o interior da casa.

O lugar é enorme com vários ambientes, uma sala de um imenso casarão antigo muito aconchegante com ladrilhos hidráulicos no piso e janelões de madeira. Na parte externa, em um jardim, ficam as outras mesas do pavimento inferior. No pavimento superior é servido o serviço de buffet de massas, como foi servido no casamento que fui.

De entrada para começar, alguns pasteizinhos de queijo, para matar a fome e esperar a comida, que chegou sem demora.

A massa é artesanal, feita no próprio local, muito suave e leve, não pesa no estômago e é al dente, nem muito mole, nem muito dura, perfeita.
A especialidade da casa são as massas regadas ao molho triplo burro, que abusa da manteiga, muito bom com o rondelli com champignons que provei.
Minha mulher provou um raviolini di espinafre recheado di vitelo, delicioso, em uma porção ideal, muito suave.

O ponto forte da casa fica por conta das massas caseiras e o molho triplo burro. O ponto fraco, pra mim, é a carta de vinhos, achei ela com muito pouca variedade de vinhos e de preço.

O preço do Buffet completo do piso superior é em torno de 50 reais por pessoa com sobremesa, o a la carte, onde comemos, fica em torno de 30 a 40 reais cada prato individual.

As massas são simplesmente deliciosas, uma das melhores massas que já provei, um lugar tranqüilo, e muito tradicional, ideal para levar a família e comer uma verdadeira massa da italianada da Mooca.

Na saída você ainda pode comprar as massa que são produzidas lá na parte de fora do restaurante: grano duro, massas frescas, molhos e doces.
Vale muito a pena conhecer.

Don Carlini
Rua Dona Ana Neri, 265
Mooca - São Paulo

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Domingo no Memorial do Imigrante de São Paulo

Este domingo passado fez muito sol em São Paulo, lindo dia para sair de casa e fazer algo diferente, resolvemos então conhecer o Memorial do Imigrante no Brás. Antes fomos almoçar no restaurante Don Carlini que é bem ali pertinho, ótima casa de massas, vale a pena conferir também.

Depois desse belíssimo almoço, seguimos em direção ao Memorial pelas ruas do Brás dando de cara com um bonde andando em plena rua Visconde de Parnaíba. Engraçado ver um bonde de 1912 disputando espaço na rua com os carros do século XXI. Seguimos o bonde até que ele parou na frente do prédio do memorial do imigrante, para pegar mais pessoas para o pequeno passeio pela rua.


Com um ingresso de 4 reais, você tem acesso ao belíssimo prédio da hospedaria, que começou a ser construído em 1886 com um jardim muito bem cuidado na frente.

Logo ao lado se vê 2 Fords “bigode” representando a época em que a hospedaria vivia cheia de imigrantes.

Caminhando para o lado esquerdo do prédio, mais à frente, perto das duas relíquias acima, pode-se ver uma casinha de madeira com teto de palha ao lado de uma mini plantação de café, representando a moradia inicial de um imigrante que trabalhava nas lavouras de café no interior de São Paulo, assim como o meu bisavô fez quando passou por aquela hospedaria.

Seguindo para o prédio, existe uma sala de emissão de certificados das famílias que passaram pela hospedaria. Não precisei buscar essa informação, pois já havia feito a busca pela internet e conseguido todos os certificados. Busca Della Negra

Meu tataravô pisou na hospedaria com a sua família, em 19 de setembro de 1891, meu bisavô chegou com ele quando tinha apenas 8 anos e provavelmente ficaram na hospedaria os 6 dias de limite até serem encaminhados para as fazendas de café em Campinas.

Seguindo em frente, quando estávamos indo para o pátio central, ouvimos os sinos do chefe da estação, vestido como se estivesse em 1910, chamando para o passeio de trem que sairia as 15hs.

Fomos até a estação de trem que fica dentro do memorial do lado direito, onde também há uma exposição ferroviária do berço da SPR - São Paulo Railway, que depois virou Estrada de Ferro Santos a Junidaí - EFSJ, depois RFFSA e atual CPTM.

O bilhete para o passeio custa 5 reais e dura 30 minutos, comprei 2 para embarcar no trem Maria Fumaça, à vapor, com a minha mulher e o meu filho ainda na barriga. A Máquina já estava bufando, esperando o apito do chefe da estação. Embarcamos no carro restaurado todo de madeira, muito bonito com muitos detalhes e ilustrado com jornais da época nas paredes.

O Chefe da estação apita, a máquina também e começa o passeio, que é bem curto, vale mais para conhecer a história da ferrovia, do trem e de como chegavam os nossos ascendentes.


Os imigrantes que chegavam de navio no porto de Santos, depois de 30 a 60 dias em alto mar, desembarcavam diretamente nesta linha de trem que os levavam até a hospedaria do Brás. Esta linha ligava Santos a Jundiaí, passando pelo Brás, as pessoas desciam, tomavam banho, toda a medicação, comida, corte de cabelo e tudo mais para continuar bem instalados no Brasil. Além disso, eles recebiam um cadastro de entrada no país e contratos de trabalho nas fazendas de café no interior paulista.

Ainda deu pra ver o cemitério de máquinas e vagões do acervo da ABPF-SP - Associação Brasileira de Preservação Ferroviária, que é uma ONG que mantém e recupera as belíssimas máquinas.
Para a criançada é muito mais divertido, principalmente por ouvir aquele barulho dos vagões e do apito da Maria Fumaça, algo realmente para ficar na memória.

O mais interessante, além de saber que meu bisavô italiano chegou do porto de santos por aquela linha e foi trabalhar em campinas em uma fazenda de café, também foi relembrar um fato que até aquele momento não havia conectado, que o meu avô espanhol havia trabalhado como ferroviário naquela mesma companhia de trem a São Paulo Railway, provavelmente no mesmo trajeto que o meu bisavô italiano havia feito anos mais cedo. Algo que não havia passado pela minha cabeça até ali.

Depois do pequeno passeio de Maria Fumaça, continuamos a ver a exposição pelo Museu multimídia e a exposição de fotos e objetos da hospedaria. A exposição é bem legal para voltar ao tempo e imaginar os antepassados que passaram por lá, a italianada, a japonesada, portuguesada, espanholada e todos os mais de 80 povos que invadiram são Paulo entre 1888 e 1978, enquanto a hospedaria funcionou.

Vale a pena conferir, conhecer e pesquisar, o prédio é muito bem conservado e repleto de história, tem uma ótima infra-estrutura, banheiros e até uma cafeteria de ótima qualidade. O prédio também oferece algumas exposições esporádicas além do acervo que é fixo.

O lado negativo fica por conta da localização, o entorno está muito mal cuidado, muito lixo e mendigos por todo o lado. Aquela região do Brás, entre a avenida dos estados e a radial leste, realmente foi esquecida pela administração paulista.

Mas o Museu é um oásis no meio daquele deserto de abandono que é o Brás.
Não perca!

Memorial do Imigrante

Visconde de Parnaíba, 1316
Bairro do Brás - São Paulo
De terça a domingo das 10:00 às 17:00 horas (inclusive feriados)
Ingresso - R$ 4,00 (Quatro Reais)

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Pizza em casa é coisa de paulista

Eu sou viciado em pizzas, tenho que assumir. Tão viciado que acabei construindo um forno de pizza no meu pequeno quintal, quase ocupando metade dele.


Será que é mania de paulista?
Em São Paulo são consumidas quarenta mil pizzas por hora, quase um milhão por dia, isso só na capital paulista, com esses números, São Paulo ocupa o segundo lugar no ranking das cidades que mais consomem pizzas, perdendo apenas para Nova York.

Quando eu era pequeno me lembro claramente dos sábados com a minha família em casa, o programa era sempre o mesmo: fazer pizza em casa e assistir um filme no vídeo-cassete, um dos primeiros comprados em todo o bairro.

Minha mãe no sábado de manhã fazia a seu roteiro em busca dos ingredientes para o preparo e dava uma passada na locadora do bairro para alugar alguns filmes.

Meu pai começava os trabalhos no fim da tarde, deixava o forno à gás esquentando minutos antes, preparava os ingredientes comprados pela mamma e começava a cortar o tomate para o preparo do molho, que ele fazia com tomate comum, com pele mesmo, jogava no liquidificador com um pouco de água e sal, batia até virar uma pasta que ele deixava descansando.
Depois começava a mistura dos ingredientes, a especialidade dele era a pizza de atum com milho e mussarela, abria todos os enlatados, deixava escorrer a água, depois em um vasilhame, ele misturava o milho, o atum, cebola bem picada e salsinha.

A massa não era feita em casa, mas ela era caseira, minha mãe comprava uma massa no supermercado que não era industrializada, semi-assada e fina, não ficava igual da pizzaria, pois não era fresca, mas dava pro gasto.

O molho era peneirado e passado na massa, que ficava em uma forma de alumínio. Depois ia direto ao forno sem recheio, apenas para secar um pouco o molho. Ele fazia isso para não deixar a massa molhada, isso acontece porque o forno convencional não chega na temperatura ideal.

Depois disso ele tirava do forno e recheava com o atum e milho, que às vezes eu roubava algumas garfadas pra comer. Depois do recheio ele cobria com mussarela, muita mussarela em fatias, e lá ia para o forno de novo, dessa vez para assar de verdade com o recheio. A pizza ficava lá quase uns 20 minutos para assar direito, depois colocava um pouco de orégano e era só comer.
Admito que não era a melhor pizza do mundo, mas era divertido ajudar ele a fazer as redondas na pia lá de casa, com o que tínhamos, até que ficava bem feitinha, mas a massa caseira ficava um pouco crocante de mais.

Vários anos depois, tentei aprimorar a técnica do meu pai e comecei tentando algo um pouco mais profissional, juntei alguns trocados e mandei fazer o forno a lenha no quintal, comprei uma pá, lenha, peguei uma boa receita de massa e caprichei nos ingredientes. Decidi que queria fazer direito, não que meu pai fizesse errado, mas ele fazia do jeito dele sem muito aparato, bem caseiro mesmo, não como é feito em pizzarias.

Bom, a grande diferença mesmo era o forno a lenha, que atinge a temperatura correta para assar a massa crua, isso era fundamental para a consistência da massa, que é uma das coisas mais difíceis de fazer, pois você precisa sovar na mão a farinha com água e fermento até e achar o ponto certo para ela crescer e não ficar dura.

Outra diferença é o molho de tomate, pois hoje eu compro tomate pelado, corto bem e mando pra panela pra cozinhar alho picado e sal. O restante é simples e parecido com o que ele fazia, com a diferença de não precisar pré-assar a massa com o molho antes, pois o forno a lenha consegue assar a massa em apenas 2 minutos.

Modestamente, minha pizza é muito boa, sempre que podemos nos reunimos em casa pra comer pizza e tomar vinho com os amigos, principalmente quando está frio. Uma das minhas especialidades é a pizza de abobrinha com queijo tipo polenghi e a margherita com manjericão fresco, mas lógico que não poderia faltar a receita do meu pai, de atum com milho.

Infelizmente, vamos ter que mudar de casa para um apartamento um pouco mais perto do nosso trabalho, para ter essa comodidade, vamos ter que abdicar do forno à lenha em casa.
São Paulo é assim, as pessoas têm que se acomodar o mais perto possível do trabalho para terem mais qualidade de vida, ou você estará fadado a perder um bom tempo no percurso.

Nossa salvação é que a minha sogra fez um forno de pizza na casa dela, no interior de São Paulo.
A tradição familiar vai continuar.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

História da Famiglia Della Negra

Depois de conseguir alguns documentos do meu pai e do meu avô, finalmente resolvi investir na busca dos meus ascendentes, lógico que foi bem complicado, principalmente por não existir muitos vestígios, a família acabou se espalhando no Brasil e ninguém sabe onde ficaram os documentos e certidões de nascimentos da italianada que pisou no porto de Santos.

Nos documentos que consegui com alguns familiares não ficava claro saber de onde o meu bisavô veio, de que região da Itália.

Com quase nada em mãos, comecei procurando na Internet. O primeiro indício foi em um site de brasões, consegui achar o brasão da família Della Negra e segundo os documentos deste site http://www.heraldica.com.br, a origem do brasão e da família é da província de Vicenza, na região de Vêneto, na Itália.

Este é o brasão:



Não estava 100% confiante nesta informação, impossível ter uma precisão exata do local, fui atrás de mais informações e fiquei muito curioso ao encontrar está página:
http://www.villecasali.com
É um site que aluga casas na Itália para férias e feriados, segundo o texto da página, esta casa, que um dia foi um convento, esta localizada na cidade de Arzignano e em algum momento pertenceu a família Della Negra.


O texto que eu traduzi para o português está aqui:

O ex-convento é dedicado a Virgem Maria e ainda hoje é rico em história e lenda. Dizem que os muros escondem um bezerro de ouro de época romana.

Santo Bernardino de Siena viveu lá onde ele atraíu uma multidão de pessoas com sua pregação. A igreja foi decorada com famosas pinturas e guarda o sagrado espinho que foi dado por um monge proveniente da Terra Santa.

O espinho é agora guardado na igreja de Castello. As acomodações ainda têm quartos murados da época.

Uma antiga lenda diz que há um túnel subterrâneo que une o convento ao castello, caminho usado para escapar durante as inúmeras batalhas.


As adegas foram um dos palcos para a inquisição.

A família Della Negra, viveu um período amaldiçoado por ter pavimentado estradas e os estábulos com o piso da igreja.

A maldição perseguiu a família e cavalos ficaram sem pernas e a família acabou sendo expulsa.
Em seguida um voto da Santa surge no convento novamente.

O convento foi construído no topo da colina de Arzignano, em 1494. O convento e uma grande igreja foram confiados aos Franciscanos, que transformaram-nas em um esplendido centro de cultura e fé.
Em 1704 o fogo destruiu grande parte do complexo de Santa Maria, que foi reconstruída prontamente.

Para conhecimento do orgulho dos habitantes, uma lápide foi construída para relembrar a pronta reconstrução pelo mérito dos fiéis e ainda pode ser visitada.
O trabalho foi completado em 1715.

Por aproximadamente 100 anos, as atividades pastorais continuaram, mas os tempos eram difíceis e os últimos frades abandonaram o convento com a chegada e das expropriações de Napoleão.


Novamente a propriedade foi da Familia Della Negra. Eles pertenciam a maçonaria e sendo completamente anticleriais, eles destruíram todos os indícios religiosos, grande parte do poder de relembrar a fé e alguns trabalhos de arte.


No ano de 1880, Santa Maria veio a ser propriedade da Família Mistrorigo que transformou em um complexo para passar férias.



Bom, também não sabia se esta história era mesmo verdadeira, aliás bastante melancólica sem falar na maldição familiar, mas ao menos era interessante e trazia mais alguns indícios.
Esta casa está localizada na cidade de Arzignano, Olhando no mapa da Itália, ela fica na comune de Vicenza, que fica na região do Vêneto, pelo menos em relação a localização, estava começando a fazer sentido.

Com mais essa informação, decidir ser cara-de-pau e comecei a mandar emails para a comune de Vicenza. Depois de muitas trocas de emails com o arquivo de Vicenza, descobri que provavelmente o meu bisavô (Giuseppe Della Negra) e o seu irmão (Antonio Della Negra) nasceram em uma cidade chamada Montecchio Maggiore (brasão ao lado) e que fica na provincia de Vicenza, vizinha de Arzignano, isso de acordo com um documento que continha registros do alistamento militar.

Este foi o texto do documento:

abbiamo trovato solo un Dalla Negra Antonio che è figlio di Giovanni e di Teresa Spirea nato a Montecchio Maggiore il 15 ottobre del 1877. Potrebbe essere un fratello.


Isso significa que eles acharam um Antonio Dalla Negra, filho de Giovanni e de Teresa Spirea, que é provavelmente irmão de Giuseppe Della Negra. O sobrenome pode sofrer variações, ou erros de digitações, muito comuns nos registros da época.
Giovanni Della Negra foi o meu tataravô, que desembarcou no porto de Santos com o meu bisavô, seu filho, mais 2 filhos e a sua mulher, Teresa.


Localização da cidade Montecchio Maggiore no mapa da Itália


Estas informações do desembarque no porto de Santos, consegui no Memorial do Imigrante, aqui em São Paulo, com data e nome do navio que eles chegaram.
http://www.memorialdoimigrante.org.br
No site existe uma busca por sobrenome que é fácil descobrir se eles passaram por lá ou não. Esta é a página com os dados da minha família: Busca Della Negra

Depois disso, só indo para a Itália mesmo para conseguir mais informações e documentos, fiquei muito curioso com o fato de várias informações estarem fazendo sentido até o momento.
Comecei a pensar em realmente pisar na Itália pela primeira vez.
Motivo e vontade eu já tinha, faltava disponibilidade: tempo + dinheiro.
Será que eu estava pronto?

São Paulo poderia ficar sem mim durante 30 dias? E o meu trabalho? Quem poderia cuidar das minhas coisas, dos meus projetos?
Pois é, esse é o típico pensamento de um paulista.


Veja aqui a segunda parte deste texto - História da Famiglia Della Negra - parte II


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Este texto é uma homenagem ao meu futuro filho, Bruno Della Negra, que esta chegando a este mundo em algumas semanas e que um dia vai querer descobrir as suas raízes, assim como o seu pai.