sexta-feira, 13 de julho de 2012

Dupla cidadania: O dia em que me tornei italiano

Dia 09 de julho de 2012.
Uma belissima manhã de verão em Milão, muito sol e temperatura em torno dos 30 graus, sai do hotel no bairro de cittá studi as 8hs da manhã para a comune de Pero. Antes de chegar, uma parada para fazer fotos naquelas macchinetas no metrô, as fotos que vão ser usadas no RG italiano e no passaporte.

As 9hs chegando na comune de Pero, sou atendido por uma senhora que fez todo o procedimento. Primeiro assinei uma papelada e me fez confirmar algumas informações. Ali mesmo na hora ela já confeccionou o meu ID na minha frente.

A carteira de identidade italiana (carta d'identitá) parece uma carteirinha de vacinação com foto, ela tem validade de 10 anos e inclui algumas informações como meu endereço, cores dos olhos e do cabelo, altura e estado civil. Depois, com o RG em mãos, fui direto para Fiera Milano City em Rho onde fica localizada uma das unidade da policia federal italiana. Lá, com fotos e o selo pago, dei entrada no meu passaporte italiano que ficará pronto em 30 dias.

 Finito, uma manhã apenas para finalizar todo o processo que iniciei em 2006, quando comecei a me interessar pela ideia e resolvi começar a busca pela cidadania. A tarde fui para o centro de Milano almoçar em um ótimo restaurante, tomar um belo vinho e depois curtir mais um pouco daquela imagem da piazza del duomo e das lojas do centro.

 Eu já era italiano de coração, agora sou legalmente. Conclui uma das etapas mais importantes da minha vida.

 E foi o próprio país da bota que me deu o pontapé inicial. Não foi só a questão familiar, meu sobrenome e o meu time do coração, eu sempre me identifiquei com a cultura italiana e principalmente com a gastronomia.

Entrei em uma aventura gigantesca de emails, cartórios e consulados. Fui pra Italia conhecer a cidade natal do meu bisnonno e depois disso cheguei a desencanar da ideia por não ter tido um retorno da comune, até que recebi na minha casa a certidão de nascimento do meu bisnonno, o documento que eu precisava para iniciar os trabalhos. Foram mais 2 anos buscando documentos pelo interior paulista, onde eles chegaram a trabalhar na colheita de café, e por fim, legalizar tudo e ir para Italia começar o processo do reconhecimento.

O reconhecimento da cidadania é o reconhecimento da historia de peregrinação de muitas e muitas famílias que deixaram a Italia para viver em um país completamente diferente. Buscar as nossas raizes, de certa forma, mostra muito sobre nós mesmos e esse aprendizado me deixou cada vez mais curioso. Pra ajudar fiz 2 anos de italiano pra poder me comunicar melhor em todo o processo. Depois acabei descobrindo toda a trajetória da minha família aqui no Brasil. Fiquei sabendo que meu bisnonno morreu super cedo com 21 anos de tifóide. Depois disso mudaram de Sousas em Campinas para a movimentada São Caetano.

Assim como houve uma enorme migração de nordestinos para São paulo em busca de oportunidades, os italianos fizeram o mesmo naquela época, para varios países da America. Hoje em dia parece piada falar que vai morar em outro pais, pela facilidade de pegar um avião, arrumar a mala e pronto. Naquela época, uma viagem da Italia para o Brasil demorava 1 mês em situação precária, com ratos, falta de comida e agua e muita, muita sujeira. Era muito normal morrer cerca de 10% dos passageiros na viagem. Fico imaginando o nível de pobreza que fez um pai de família se sujeitar a arriscar a vida dos filhos em uma aventura que seguramente não teria volta.

A situação na Italia era muito ruim, passavam fome e não tinham terra, e em algumas regiões como o Veneto, de onde minha família veio, a situação era ainda pior. Além de buscarem oportunidades em outros países, alguns tentaram a sorte em outras regiões da própria italia. Conheci muito veneteses morando na lombardia. A Italia por muito tempo esqueceu dos seus cidadãos nesta época de miséria e os italianos esqueceram da Italia como sua pátria mãe. Muitos deles ao chegar no Brasil, mudaram de nome e renegaram a cidadania italiana com raiva de sua propria nação.

Tenho muito orgulho do que minha família viveu e por toda essa historia que é riquíssima e merece ser recordada. Requerer a cidadania italiana é honrar essa história, é honrar um povo que ajudou a construir a maior e mais rica cidade do Brasil.

Auguri a me!